Páginas

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Análise estilística do conto “O Búfalo” de Clarice Lispector

No conto “O Búfalo”, Clarice Lispector apresenta uma personagem que, rejeitada pelo homem que ama, vai ao zoológico, onde pensa encontrar ódio e animalidade, e parece querer não só legitimar o seu próprio ódio, encontrar-se com este sentimento, mas também matar um pouco do amor existente em si. A adversidade que permeia a narrativa aparece já no primeiro momento em que ela entra no zoológico. Neste ambiente, encontra-se com um animal solitário, com o qual se identifica, ou no qual identifica o homem que a rejeitou. Na mulher que vai ao Zoológico, procurando o ódio, mas encontra o amor transbordando no olhar e nas atitudes de cada animal, podemos perceber muito da identidade da própria autora. Clarice, assim como a maioria de suas personagens femininas, foi uma mulher muito solitária e frustrada amorosamente.
A trama gira em torno da maneira como a protagonista se posiciona perante o mundo e do domínio de seus sentimentos. Ela busca odiar aquele que a feriu, por isso, vai ao zoológico à procura da aprendizagem do ódio. Acreditando que tal aprendizagem se dará por meio da observação do modo como os animais se relacionam, já que, da mesma forma que o amor, o ódio é vivenciado e aprendido na convivência com outros seres. A premissa da personagem parece ser a de que haveria entre os chamados irracionais uma violência gratuita e instintual, uma espécie de pulsão da existência dos bichos, que determinaria o ódio entre eles.

A negação do ódio fica clara nas cenas de cumplicidade entre os animais, conforme se percebe na enumeração dos eventos a seguir: “Até o leão lambeu a testa glabra da leoa” “Mas isso é amor, é amor de novo”; “Com a tola inocência do que é grande e leve e sem culpa” “A macaca com olhar resignado de amor, e a outra macaca dando de mamar”; “Ao elefante fora dado com uma simples pata esmagar. Mas não esmagava, potência que se deixaria conduzir docilmente a um circo”. A partir da observação destas cenas a personagem depara-se com o fato de que as relações entre macho e fêmea não obedecem à mesma lógica que orienta as relações humanas.
Em “O Búfalo”, encontramos uma série de recursos estilísticos que aplicam ao texto um tom paradoxal e, o uso das palavras, especialmente adjetivos, é uma forma de garantir a expressividade do conto. Podemos observar que a autora faz repetidamente uso da conjunção “mas”. Em alguns casos, a conjunção é empregada sem valor sintático, ou com valor aditivo, mas, na maioria das ocorrências, a conjunção tem valor adversativo, reforçando as idéias contraditórias desenvolvidas no conto.
Outro recurso bastante utilizado é a repetição de palavras, especialmente adjetivos e substantivos. Essa repetição é proposital e pretende dar mais ênfase às idéias. As figuras de linguagem também fazem parte da lista de recursos estilísticos empregados pela autora. Um grande número de antíteses reforça as contradições apresentadas. As oposições de sentido mais evidentes são: “tranqüila raiva” – “negror e alvura” – “doçura de um cansaço” – “frescura de uma cova”. Encontramos também a sinestesia, como por exemplo, em “cheiro quente”.
A serviço da expressividade também estão as aliterações (“frio do ferro” – “rolo roliço” – “macaca dando de mamar” – “sangue cinzento circulava”), e as anominações (“jaula, enjaulada pelas jaulas” – “E os olhos do búfalo, os olhos olharam seus olhos”).
No parágrafo que começa com “Mas de repente foi aquele vôo de vísceras, aquela parada de um coração que se surpreende no ar, aquele espanto, a fúria vitoriosa...”, encontramos um recurso estilístico muito interessante, a cenestesia, que nada mais é que a percepção falseada dos órgãos internos ou do esquema corporal.
Clarice também utilizou um recurso generalizador. A personagem protagonista é descrita apenas como “a mulher”, não sendo dado a ela nenhum nome sobre o qual pudesse recair algum significado, senão o da ausência do próprio nome. Isto significa que a determinação especificada no referente “a mulher”, em toda a narrativa, pressupõe uma espécie de representação metonímica do conjunto mulheres na sociedade.


 Graziela Vieira
(discente do curso de Letras - AEDB - Resende)


12 comentários:

  1. Clarice foi frustrada amorosamente? rs Voce a conheceu? rsrsr

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Valéria. Infelizmente não tive esse prazer de conhecer Clarice, muito provavelmente você também, não é? Minhas palavras se baseiam nas biografias que li dela, com relatos inclusive de pessoas que conviveram com ela. Pela sua desinformação imagino que você não tenha lido nada a respeito. Mas para que você amplie o seus conhecimentos e possa basear melhor seus comentários, sugiro que vc leia a biografia escrita pelo Benjamin Moser. Abraços

      Excluir
    2. Em caso de a Sra. Santti não querer ler a biografia que lhe foi sugerida, ela pode optar por morar num zoológico, atrás de grades. Aliás, tal moradia muito bem lhe cairia.

      Excluir
    3. quanta ignorância, qual a necessidade disso? ela só fez uma pergunta

      Excluir
  2. Clarice foi frustrada amorosamente? rs Voce a conheceu? rsrsr

    ResponderExcluir
  3. Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Claro né querida é falado quase no conto inteiro que ela está em um zoológico observando atrás de grades como ele ira mata-la...

      Excluir
  4. Nossa Gente,faça me favor né?
    A mulher fez apenas uma pergunta.Cuidado pra muitos não ficarem se sentindo odiado igual a MULHER do Conto.😚😶😑

    ResponderExcluir